Quando falamos em aculturação, a primeira imagem que vem à mente é geralmente a de alguém que migra para outro país e passa por uma imersão instantânea na cultura desse novo lugar. No entanto, quando aplicamos o conceito de aculturação ao contexto do marketing e branding, embora haja semelhanças, há algumas distinções importantes.
Na migração, a aculturação refere-se ao processo pelo qual os indivíduos se adaptam a uma nova cultura, enfrentando desafios específicos e lidando com mudanças em sua identidade cultural. Isso pode incluir aprender um novo idioma, adotar costumes diferentes e lidar com o choque cultural.
Por outro lado, no marketing e branding, a aculturação envolve a adaptação de marcas ou categorias de produtos a diferentes culturas ou mercados. Isso significa que as empresas precisam ajustar suas estratégias de marketing, mensagens e produtos para atender às necessidades e preferências dos consumidores em diferentes regiões ou países. No entanto, ao contrário da migração, as marcas geralmente mantêm sua identidade distintiva enquanto se adaptam a novos contextos.
Em ambos os casos, a aculturação envolve a interação entre culturas e a necessidade de se adaptar a novos ambientes. No entanto, enquanto na migração os indivíduos passam por mudanças pessoais e culturais profundas, no marketing e branding as marcas buscam equilibrar a preservação de sua identidade com a necessidade de se conectar com novos públicos e mercados.
Elementos de Adaptação
Na migração, os indivíduos passam por um processo de aculturação ao se adaptarem a uma nova cultura, enquanto no marketing, as marcas enfrentam desafios semelhantes ao expandir para novos mercados ou culturas. As estratégias de assimilação, integração, marginalização e segregação são formas de lidar com essa adaptação e influenciar como os indivíduos ou marcas são percebidos e aceitos em seus novos contextos.
Estilos de Adaptação, por John Widdup Berry em 1997: Assimilação, Integração, Marginalização e Segmentação |
Aqui está uma análise de como esses elementos podem se manifestar no contexto do marketing:
Assimilação: No marketing, a assimilação pode ocorrer quando uma marca estrangeira se adapta completamente à cultura local, abandonando suas características distintivas e se fundindo completamente com as práticas de marketing e preferências do mercado local. Isso pode ser visto, por exemplo, quando uma marca estrangeira altera seu nome, logotipo ou mensagens para se adequar ao mercado local sem manter elementos de sua identidade original.
Integração: No marketing, a integração ocorre quando uma marca estrangeira mantém sua identidade distintiva, mas se envolve ativamente com a cultura local, incorporando elementos locais em suas estratégias de marketing. Isso pode incluir parcerias com celebridades locais, patrocínio de eventos culturais ou adaptação de produtos para atender às preferências locais, enquanto ainda mantém uma identidade global reconhecível.
Marginalização: No marketing, a marginalização pode ocorrer quando uma marca estrangeira não consegue se conectar efetivamente com o mercado local, permanecendo distante ou irrelevante para os consumidores locais. Isso pode resultar em baixa conscientização da marca, falta de engajamento do consumidor e dificuldade em competir com marcas locais estabelecidas.
Segregação: No marketing, a segregação pode ocorrer quando uma marca estrangeira opta por se concentrar exclusivamente em um nicho de mercado específico, em vez de se envolver com a cultura local em geral. Isso pode ser visto quando uma marca estrangeira segmenta grupos específicos de consumidores com base em interesses ou identidades compartilhadas, em vez de buscar uma ampla aceitação no mercado local.
Assim, embora os elementos de assimilação, integração, marginalização e segregação possam ser aplicados de maneira semelhante no contexto do marketing, sua interpretação e manifestação podem variar dependendo da dinâmica específica do mercado e das estratégias de marca adotadas.
Aculturação em Marketing
Dentro do contexto de marketing e branding, a aculturação refere-se ao processo pelo qual duas ou mais entidades, como marcas ou categorias de produtos, se unem e se adaptam às diferentes culturas, contextos ou mercados, mantendo suas identidades distintas. Esse processo envolve uma integração cuidadosa que permite a preservação das características únicas de cada entidade, ao mesmo tempo em que busca alcançar objetivos comuns e aproveitar sinergias. Em vez de uma absorção completa, a aculturação visa a colaboração e a coexistência harmoniosa, resultando em uma nova entidade que incorpora o melhor de todas as partes envolvidas.
No estudo de branding e marketing, o termo "aculturação" pode ter várias conotações, cada uma com implicações distintas. Aqui estão algumas delas, com exemplos para ilustrar:
1 Aculturação de Marca: Como discutido anteriormente, isso envolve a integração de duas ou mais marcas, mantendo suas identidades culturais distintas. Exemplo: Facebook e Instagram: O Facebook adquiriu o Instagram, mas permitiu que a plataforma mantivesse sua identidade única, enquanto integrava recursos como anúncios direcionados.
2 Aculturação de Produto: Refere-se à adaptação de um produto para se adequar a diferentes culturas ou mercados. Exemplo: A McDonald's oferece menus específicos para cada país, incorporando itens que são populares e culturalmente relevantes em cada localidade.
3 Aculturação de Consumidor: Envolve a mudança de comportamento, crenças ou hábitos de consumo de um consumidor devido à exposição a uma nova cultura ou influência externa. Exemplo: A popularização do sushi nos Estados Unidos, onde o consumo dessa comida japonesa se tornou comum entre os americanos, adaptando-se às preferências locais.
4 Aculturação de Categoria: Como no exemplo do cauim, isso envolve a introdução de uma categoria de produto em novos contextos culturais, muitas vezes preservando suas raízes e tradições originais. Exemplo: A criação da nova categoria de bebida alcoólica, o ‘cauim’ , feita a partir de mandioca, com base na cultura tradicional indígena brasileira.
Essas são apenas algumas das formas pelas quais o conceito de aculturação pode ser aplicado no contexto de branding e marketing, demonstrando como as empresas e consumidores interagem e se adaptam às mudanças culturais.
References
Akthar, S. (1999). Immigration and identity: Turmoil, treatmentand transformation. Lanham, MD: Jason Aronson.
Ayers, J. W., Hofstetter, C. R., Usita, P., Irvin, V. L., Kang, S.,& Hovell, M. F. (2009). Sorting out the competing effectsof acculturation, immigrant stress, and social support ondepression. Journal of Nervous and Mental Disease, 197,742–747.
Berry, J. W. (1990). Psychology of acculturation: Understandingindividuals moving between cultures. In W. Brislin (Ed.),Applied cross-cultural psychology (pp. 232–253). ThousandOaks, CA: SAGE.
Berry, J. W. (1997). Immigration, acculturation and adaptation.Applied Psychology, 46, 5–68.
Berry, J.W., & Sabatier, C. (2011). Variations in the assessmentof acculturation attitudes: Their relationships with psycho-logical wellbeing. International Journal of InterculturalRelations, 35(5), 658–669.
Bhugra, D. (2004). Migration and mental health. Acta PsychiatricaScandinavica, 109, 243–258.Bhugra, D., & Jones, P. (2001). Migration and mental illness.Advances in Psychiatric Treatment, 7, 216–222.
Bhugra, D., & Mastrogianni, A. (2004). Globalisation and mentaldisorders. British Journal of Psychiatry, 184, 10–20.
Bongard, S., Kelava, A., Sabic, M., Aazami-Gilan, D., &Kim, Y. B. (2007). Akkulturation und gesundheitli-che Beschwerden bei drei Migrantenstichproben inDeutschland [Acculturation and health condition in threemigrant samples in Germany]. In J. Eschenbeck, U.Heim-Dreger, & C. W. Kohlmann (Hrsg.), Beiträge zurGesundheitspsychologie. Schwäbisch Gmünd: GmünderHochschulreihe Band 29, Germany, p. 53.
Borges, G., Breslau, J., Su, M., Miller, M., Medina-Mora, M.E., & Aguilar-Gaxiola, S. (2009). Immigration and sui-cidal behavior among Mexicans and Mexican Americans.American Journal of Public Health, 99, 728–733.
Bursztein Lipsicas, C., & Mäkinen, I. H. (2010). Immigration andsuicidality in the young. Canadian Journal of Psychiatry,55, 273–281.
Calliess, I. T., Bauer, S., & Behrens, K. (2012). Kultur-dynamisches Modell der bikulturellen Identität.Interkulturelle Psychotherapie unter Berücksichtigung derStruktur des Selbst [A dynamic model of bicultural iden-tity. Intercultural psychotherapy under consideration ofthe strucure of the self]. Psychotherapeut, 57, 36–41.
Calliess, I. T., Ünlü, A., Neubauer, A., Hoy, L., Machleidt, W.,& Behrens, K. (2009). Hannover Interview ‘Migration,Akkulturation und seelische Gesundheit’ (HMMH). Eininnovatives Instrument zur systematischen Erfassung derRisiken und Ressourcen einzelner Migrationsphasen imHinblick auf seelische Gesundheit [Hanover Interview“Migration, Acculturation, and Mental Health”. An inno-vative instrument for the systematic assessment of risksand resources for mental health in different migrationphases]. Klinische Diagnostik und Evaluation,2, 145–167.
Chandrasena, R., Beddage, V., & Fernando, M. L. (1991).Suicide among immigrant psychiatric patients in Canada.British Journal of Psychiatry, 159, 707–709.at MHH-Bibliothek on May 19, 2015isp.sagepub.comDownloaded from Page 88 International Journal of Social Psychiatry
Clarke, D. E., Colantoni, A., Rhodes, A. E., & Escobar, M. (2008).Pathways to suicidality across ethnic groups in Canadianadults: The possible role of social stress. PsychologicalMedicine, 28, 419–431.
Dilling, H., Mombour, W., & Schmidt, M. H. (2005). The ICD-10 classification of mental and behavioural disorders:Clinical descriptions and diagnostic guidelines. Geneva,Switzerland: World Health Organization.Grinberg, L., &
Grinberg, R. (1989). Psychoanalytic perspectives onmigration and exile. New Haven, CT: Yale University Press.
Hautzinger, M., & Bailer, M. (1993). Allgemeine DepressionsSkala [General Depression Scale]. Göttingen, Germany:Beltz Test GmbH.
Hovey, J. D. (2000). Psychosocial predictors of acculturativestress in Mexican immigrants. Journal of Psychology, 134,490–502.
Hovey, J. D., Kim, S. E., & Seligman, L. D. (2005). The influ-ences of cultural values, ethnic identity, and language useon the mental health of Korean American college students.Journal of Psychology, 140, 499–511.
Lehr, D., Hillert, A., Schmitz, E., & Sosnowsky, N. (2008).Screening depressiver Störungen mittels der AllgemeinenDepressionsskala (ADS-K). und dem State-Trait-Depressions-Test (STDS-T) [Screening of depressive dis-orders by means of the General Depression Scale and theState-Trait-Depression-Test]. Diagnostica, 54(2), 61–70.
Matsudaira, T. (2006). Measures of psychological acculturation:A review. Transcultural Psychiatry, 43, 462–487.
Radloff, L. S. (1977). The CES-D scale: A self report depres-sion scale for research in the general population. AppliedPsychological Measurement, 1, 385–401.
Rudmin, F.W. (2009). Constructs, measurements and models ofacculturation and acculturative stress. International Journalof Intercultural Relations, 33(2), 106–123.
Sayegh, L., & Lasry, J. C. (1993). Immigrants’ adaptation inCanada: Assimilation, acculturation, and orthogonal cul-tural identification. Canadian Psychology, 34, 98–109.
Sin, M. K., Choe, M. A., Kim, J., Chae, Y. R., & Jeon, M.Y. (2010). Depressive symptoms in community-dwellingelderly Korean immigrants and elderly Koreans: Cross-culturalcomparison. Research in Gerontological Nursing,3,262–269.
Snauwaert, B., Soenens, B., Vanbesselaere, N., & Boen, F.(2003). When integrations does not necessarily imply inte-gration: Different conceptualizations of acculturation ori-entations lead to different classifications. Journal of CrossCultural Psychology, 34, 231–239.
Van Bergen, D. D., Smit, J. H., Van Balkom, A. J. L. M., VanAmeijden, E., & Saharso, S. (2008). Suicidal ideation inethnic minority and majority adolescents in Utrecht, TheNetherlands. Crisis, 29, 202–208.
Vega, W. A., & Sribney, W. M. (2011). Understanding theHispanic health paradox through a multi-generation lens:A focus on behavior disorders. Nebraska Symposium onMotivation, 57, 151–168.
Walsh, S. D., & Shulman, S. (2007). Splits in the self followingimmigration: An adaptive defense or a pathological reac-tion? Psychoanalytic Psychology, 24, 355–372.
Zayas, L. H., Bright, C. L., Álvarez-Sánchez, T., & Cabassa, L. J.(2009). Acculturation, familism and mother-daughter rela-tions among suicidal and non-suicidal adolescent Latinas.Journal of Primary Prevention, 30, 351–369
(PDF) How much orientation towards the host culture is healthy? Acculturation style as risk enhancement for depressive symptoms in immigrants. Available from: https://www.researchgate.net/publication/269173345_How_much_orientation_towards_the_host_culture_is_healthy_Acculturation_style_as_risk_enhancement_for_depressive_symptoms_in_immigrants [accessed Jun 12 2024].